Sintomas e Diagnósticos

Dor na Coluna Lombossacra: O Que Pode Ser?

A dor na coluna lombossacra é um dos problemas mais comuns que enfrento na minha prática clínica diária.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, cerca de 80% da população mundial apresentará algum tipo de dor nessa região em algum momento da vida.

Como especialista em coluna, posso afirmar que essa condição pode variar de um simples desconforto a uma dor incapacitante que compromete significativamente a qualidade de vida.

Para esclarecer todas essas dúvidas, com a colaboração da minha equipe, elaborei esse guia exclusivo explicando em detalhes as causas da dor na coluna lombossacra, sintomas e possibilidades de tratamento.

O que é a coluna lombossacra?

A coluna vertebral é dividida em diferentes regiões, sendo a lombossacra uma das mais importantes para nossa sustentação.

Ela é formada pelas cinco vértebras lombares (L1 a L5) e pelo sacro, estrutura formada pela fusão de cinco vértebras sacrais.

Esta região é responsável por suportar grande parte do peso corporal e permitir movimentos como flexão, extensão e rotação do tronco, sendo as vértebras lombares as maiores da coluna vertebral, justamente por sua função de sustentação.

Entre cada vértebra encontram-se os discos intervertebrais, que funcionam como “amortecedores” para diminuir o atrito e permitir a flexibilidade da coluna.

Além disso, músculos, ligamentos e nervos compõem esse complexo sistema que, quando sofre alterações, pode resultar em dor.

Causas da dor na coluna lombossacra

A dor na coluna lombossacra pode ter diversas origens, sendo classificada em três grandes grupos:

Causas mecânicas (97% dos casos)

A causa isolada mais comum é a contratura muscular e/ou distensão de ligamentos, geralmente associada à sobrecarga ou má postura.

Essas condições costumam se resolver em menos de 4 a 6 semanas com tratamento adequado. Outras causas mecânicas incluem:

  • Hérnia de disco: quando o centro gelatinoso de um disco lombar rompe a camada externa e comprime raízes nervosas.
  • Estenose lombar: estreitamento anormal do canal vertebral que comprime nervos.
  • Espondilolistese: deslizamento de uma vértebra sobre outra, comum na região L5 sobre o sacro.
  • Artrose das articulações facetárias: desgaste nas pequenas articulações da coluna.
  • Fraqueza da musculatura estabilizadora: compromete o suporte adequado da coluna.

Condições não mecânicas (1%)

Envolvem processos inflamatórios, infecciosos e tumorais que acometem a coluna. Apesar de raras, são condições que exigem atenção especial do médico.

Doenças viscerais (2%)

Problemas em órgãos próximos à região lombossacra podem manifestar-se como dor nessa região, como:

  • Cálculos renais.
  • Doenças do pâncreas e vesícula.
  • Patologias intestinais.
  • Problemas ginecológicos como endometriose.
  • Doenças da próstata.

Epidemiologia da dor lombossacra

Em 2020, a dor lombar afetou aproximadamente 619 milhões de pessoas em todo o mundo, com projeção de aumento para 843 milhões até 2050.

No Brasil, um estudo baseado na Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 revelou que 21,6% dos adultos brasileiros apresentaram dor crônica na coluna, com maior prevalência entre mulheres (24,5%).

Dados globais mostram que a Europa Central (12.800 casos por 100.000 habitantes), Europa Oriental (11.200/100.000) e Australásia (11.100/100.000) apresentam as maiores taxas de prevalência, enquanto o Leste Asiático registra as menores taxas (5.430/100.000).

Sintomas associados à dor lombossacra

Os sintomas da dor na coluna lombossacra variam conforme a causa subjacente, mas grande parte dos meus pacientes relata:

  • Dor localizada na região inferior das costas, acima das nádegas.
  • Dor que pode irradiar para os membros inferiores, conhecida como ciática.
  • Limitação de movimentos e sensação de travamento na coluna.
  • Formigamento ou dormência nas pernas.
  • Em casos mais graves, como na síndrome da cauda equina, pode haver alterações no controle da bexiga e intestino.

A intensidade pode variar de leve a intensa, podendo ser aguda (duração inferior a 4 semanas), subaguda (4-12 semanas) ou crônica (superior a 12 semanas).

Quando procurar um médico ortopedista

Embora a maioria dos casos de dor na coluna lombossacra melhore espontaneamente em algumas semanas, a minha recomendação é consultar um médico ortopedista especializado em coluna ao observar os seguintes sinais:

  • Dor intensa que não melhora com repouso.
  • Fraqueza progressiva nos membros inferiores.
  • Alterações no controle da bexiga ou intestino.
  • Dor associada à febre.
  • Trauma recente na coluna.
  • Histórico de câncer.
  • Dor que piora constantemente.

Diagnóstico

O diagnóstico da dor lombossacra é principalmente clínico, baseado na história do paciente e no exame físico detalhado.

É importante ressaltar que exames de imagem não são necessários em todos os casos e, quando solicitados precocemente sem indicação precisa, não apresentam associação com melhora do quadro e podem levar a procedimentos invasivos desnecessários.

Em casos específicos, podem ser solicitados:

  • Radiografias.
  • Tomografia computadorizada.
  • Ressonância magnética.
  • Exames laboratoriais.

Tratamentos disponíveis

O tratamento da dor na coluna lombossacra varia conforme a causa e gravidade, mas geralmente sigo essas diretrizes:

Tratamentos conservadores

  • Medicamentos: Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), analgésicos e, em casos selecionados, corticosteroides e relaxantes musculares.
  • Fisioterapia: Exercícios direcionados para fortalecimento da musculatura estabilizadora da coluna.
  • Terapia manual: Manipulação vertebral apresenta forte evidência científica para dor lombar aguda e crônica.
  • Educação em saúde: Orientações sobre postura, ergonomia e neurociência da dor.
  • Exercícios específicos: Pilates, Método McKenzie e outros programas estruturados.

Procedimentos minimamente invasivos

  • Injeções epidurais de esteroides para casos selecionados.
  • Bloqueios nervosos para alívio da dor.

Tratamento cirúrgico

Considero a intervenção cirúrgica em casos específicos, como:

  • Hérnia de disco com déficit neurológico progressivo.
  • Estenose lombar severa.
  • Síndrome da cauda equina (emergência médica).
  • Instabilidade vertebral grave.

Prevenção

Para prevenir episódios de dor na coluna lombossacra, recomendo aos meus pacientes as seguintes medidas:

  • Manter boa postura ao sentar, andar e dormir.
  • Praticar atividade física regularmente para fortalecer a musculatura do core.
  • Evitar o levantamento incorreto de pesos.
  • Manter peso adequado.
  • Evitar o tabagismo, que está associado ao aumento do risco de dor lombar.

Conclusão

A dor na coluna lombossacra é uma condição extremamente comum que pode ter diversas causas. Felizmente, a maioria dos casos resolve-se com tratamentos conservadores em poucas semanas.

O importante é estar atento aos sinais de alerta que indicam a necessidade de avaliação ortopédica especializada e adotar medidas preventivas para reduzir as chances de recorrência.

Compreender que o tratamento multidisciplinar, envolvendo exercícios, orientações posturais e, quando necessário, medicamentos, é a melhor abordagem para lidar com esse problema tão frequente na população.

Cada caso é único e merece uma avaliação individualizada por um profissional especializado em coluna!

Dr. Aurélio Arantes

Especialista em ortopedia de coluna em Goiânia. Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC). Preceptor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia do HC-UFG e membro da diretoria da SBOT Goiás.

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Dr. Aurélio Arantes