Patologias da Coluna

Escoliose em crianças: diagnóstico precoce e tratamento

Aprenda a reconhecer os primeiros sinais de escoliose em crianças e os tratamentos disponíveis.

A escoliose em crianças é um desvio na coluna que muitas vezes evolui em silêncio.

Na infância, a escoliose muitas vezes aparece só em detalhes: roupa torta, um ombro mais alto, costas diferentes nas fotos.

Quando a família percebe isso cedo e procura um ortopedista, fica bem mais fácil acompanhar a curvatura e reduzir o risco de limitações no futuro.

Neste artigo, explico em detalhes o que é escoliose infantil, como desconfiar do problema, quais exames costumam ser pedidos e quando cada tipo de tratamento costuma ser indicado.

O que é escoliose em crianças

A coluna não é totalmente reta, ela possui pequenas curvas naturais que ajudam no equilíbrio do corpo.

Na escoliose em crianças, essas curvas fogem do padrão e a coluna passa a desviar para um lado, formando um desenho que lembra a letra S ou C.

Esse desvio é tridimensional, ou seja, a coluna gira e inclina ao mesmo tempo.

Em graus baixos, a criança pode não sentir nada, mas em curvas maiores, o desajuste pode comprometer a postura, causar dor, cansaço e, nos quadros mais graves, até interferir na respiração.

Principais causas de escoliose infantil

Nem sempre é possível apontar um motivo específico para a escoliose em crianças. Em boa parte dos casos o quadro é considerado idiopático, termo médico usado quando a doença surge sem causa definida.

Entre as situações mais comuns, destacam-se:

  • Hereditariedade: crianças com familiares portadores de escoliose apresentam risco maior de desenvolver a mesma condição.
  • Malformações congênitas: vértebras que se formam de maneira incompleta ou grudadas durante a gestação podem gerar escoliose desde muito cedo.
  • Doenças neuromusculares: paralisia cerebral, distrofias musculares e outras alterações que afetam músculos e nervos facilitam o aparecimento do desvio.
  • Crescimento acelerado: fases de estirão, principalmente perto da puberdade, tendem a acelerar a progressão da curvatura.

Mochila pesada, colchão inadequado ou postura relaxada no sofá podem piorar a postura, porém, isoladamente, raramente explicam um quadro de escoliose em crianças.

Sinais de escoliose que os pais conseguem perceber

O primeiro passo é olhar para a criança em pé, de costas, com os pés alinhados. Pequenas diferenças podem indicar escoliose em crianças ainda em fase inicial, como:

  • Ombros em alturas diferentes, com um lado mais elevado.
  • Escápula (osso das costas) mais “saltada” de um lado.
  • Quadril desnivelado, como se uma perna fosse mais longa.
  • Cintura assimétrica, com um lado mais marcado.
  • Tronco pendendo para um lado, mesmo quando a criança tenta ficar reta.

Outra forma simples é pedir para a criança juntar os pés e flexionar o tronco para frente, como se fosse pegar algo no chão.

Nessa posição, algumas curvas ficam mais evidentes e um lado das costas pode parecer mais alto.

Queixas de dor não são obrigatórias. Muitas vezes, a escoliose em crianças é silenciosa, e o desconforto aparece apenas depois de ficar muito tempo sentada na escola, ao carregar peso ou em fases de maior crescimento.

Quando é hora de procurar um ortopedista

Qualquer suspeita de escoliose em crianças já justifica uma avaliação com ortopedista, preferencialmente especialista em coluna pediátrica. Não é preciso esperar a dor aparecer para marcar consulta.

O médico observa a postura da criança em pé, de perfil e durante o movimento. O teste de flexão do tronco, conhecido como Teste de Adams, costuma fazer parte do exame físico.

A partir dessa avaliação inicial, o especialista decide se há indícios de desvio estrutural ou apenas alteração postural.

Para confirmar a hipótese, radiografias da coluna em pé são solicitadas. A partir delas, calcula-se o ângulo de Cobb e se define o grau de escoliose.

Em casos selecionados, exames como ressonância magnética e testes neurológicos ajudam a investigar causas congênitas ou neuromusculares.

Graus de escoliose e riscos de progressão

De forma geral, a escoliose em crianças costuma ser classificada em leve, moderada ou grave, de acordo com o ângulo medido no exame de imagem.

  1. Leve (até cerca de 20 graus): em muitos casos não há dor. O foco é acompanhar a curva e orientar exercícios específicos.
  2. Moderada (entre 20 e 40 graus): risco maior de progressão durante o crescimento, muitas vezes há indicação de órtese associada à fisioterapia.
  3. Grave (acima de 40–50 graus, principalmente em crianças que ainda vão crescer): pode afetar a estética, a função respiratória e, em alguns casos, levar à indicação cirúrgica.

Idade, velocidade de crescimento, padrão da curva e histórico familiar ajudam o médico a estimar se a escoliose tende a piorar ou se pode se manter estável com acompanhamento.

Tratamento

O tratamento não é igual para todas as crianças. Cada plano leva em conta o grau da curva, o estágio de crescimento e o impacto nos sintomas e na rotina.

Acompanhamento e fisioterapia

Nos casos leves, consultas periódicas e exercícios orientados costumam ser suficientes.

A fisioterapia voltada para reeducação postural, fortalecimento de musculatura profunda e alongamentos específicos ajuda a controlar o desvio e a reduzir dor e fadiga.

Uso de colete ou órtese

Quando a curva atinge valores moderados e a criança ainda tem bastante crescimento pela frente, o ortopedista pode indicar um colete para uso diário, por várias horas.

O objetivo não é “desentortar” completamente a coluna, mas conter a progressão da escoliose na fase de estirão.

O colete é feito sob medida e precisa de ajustes periódicos. A adesão da criança e o apoio da família fazem muita diferença para que o resultado seja satisfatório.

Cirurgia

A cirurgia de escoliose costuma ser reservada para curvas acentuadas, que ultrapassam valores considerados seguros ou que continuam progredindo mesmo com colete e fisioterapia.

O procedimento corrige e estabiliza a coluna com auxílio de hastes, parafusos e enxerto ósseo.

A decisão leva em conta não só o número de graus, mas também idade, padrão da curva, sintomas e possíveis repercussões na função pulmonar.

Após o procedimento, sessões de fisioterapia são indicadas e o retorno às atividades é gradual.

Importância do diagnóstico precoce

Quanto mais cedo a escoliose em crianças é identificada, maior a chance de controlar a curva com medidas conservadoras.

Crianças em acompanhamento regular podem ter a evolução monitorada em cada fase de crescimento, o que evita surpresas na adolescência, quando o desvio já pode estar bem mais marcado.

Revisões de rotina com o pediatra, programas de triagem postural nas escolas e atenção dos familiares ajudam a detectar alterações sutis e antecipar a visita ao ortopedista, ponto chave para reduzir o risco de deformidades intensas e necessidade de cirurgias ampliadas.

FAQs

O que é escoliose em crianças?

É um desvio anormal da coluna para um dos lados, formando uma curva em S ou C. Essa alteração pode ser leve ou acentuada e costuma surgir em fases de crescimento, da infância à adolescência.

Quais são os primeiros sinais de escoliose infantil?

Os sinais mais comuns são ombros em alturas diferentes, um lado das costas mais alto, quadril desnivelado e tronco pendendo para um lado. Em muitos casos a criança não sente dor no início.

Escoliose em crianças sempre causa dor?

Nem sempre. Muitas crianças com curvas leves não se queixam de dor. O desconforto tende a aparecer em desvios maiores, após esforço físico, longos períodos sentadas ou durante fases de crescimento acelerado.

Quando devo levar meu filho ao ortopedista?

Qualquer assimetria visível na postura, queixa de dor nas costas ou histórico familiar de escoliose já é motivo para avaliação. A recomendação é não esperar a situação piorar para procurar o especialista.

Todo caso de escoliose em crianças precisa de cirurgia?

Não. A maior parte dos casos é acompanhada com consultas, fisioterapia e, quando necessário, uso de colete. A cirurgia fica reservada para curvas mais intensas ou que continuam progredindo apesar do tratamento clínico.

Atividade física piora a escoliose infantil?

Em geral não piora. Pelo contrário, o movimento orientado ajuda na força muscular e na postura. O ideal é escolher modalidades adequadas à condição da criança e seguir as orientações do ortopedista e do fisioterapeuta.

Com que frequência a criança deve ser acompanhada?

A periodicidade varia conforme a idade, o grau da curva e a fase de crescimento. Em muitos casos de escoliose em crianças, revisões a cada três a seis meses permitem monitorar bem a evolução e ajustar o tratamento.

Dr. Aurélio Arantes

Especialista em ortopedia de coluna em Goiânia. Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC). Preceptor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia do HC-UFG e membro da diretoria da SBOT Goiás.

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Dr. Aurélio Arantes