Patologias da Coluna

Espondilolistese displásica: causas, sintomas e tratamento

Guia completo para entender e tratar a espondilolistese displásica.

A espondilolistese displásica é um escorregamento congênito entre as vértebras, mais comum em L5 S1.

Essa variação surge por malformações das facetas e do arco posterior, o que favorece instabilidade, dor e, em alguns casos, sinais neurológicos.

Conhecer as causas, sintomas, exames e estratégias de tratamento ajuda a agir cedo e reduzir o risco de progressão.

O que é espondilolistese displásica

É um tipo de listese de origem congênita. As facetas articulares nascem orientadas de forma anômala, o arco posterior pode comprimir a cauda equina e a translação entre L5 e S1 tende a ocorrer ao longo do crescimento.

Diferente da forma ístmica, não há obrigatoriamente fratura da pars, o problema está na anatomia que permite o deslizamento.

Quem pode ter e quando aparece

Geralmente é identificada na infância ou adolescência, período no qual a velocidade de crescimento aumenta a chance de escorregamento.

Adultos jovens podem descobrir o quadro por dor lombar persistente, limitação para esportes ou por alterações posturais graduais.

Sinais e sintomas mais comuns

A intensidade varia conforme o grau de deslizamento e a presença de compressão neural.

Atletas e pessoas com encurtamento de musculatura posterior podem relatar piora após extensão sustentada da coluna.

Entre os sintomas mais frequentes, destaco:

  • Dor lombar que piora com extensão, melhora parcial em flexão.
  • Desvio postural, degrau palpável na transição lombo sacra.
  • Irradiação para glúteo ou pernas, parestesia e sensação de choque.
  • Encurtamento de isquiotibiais, marcha com flexão de quadris e joelhos.
  • Fraqueza segmentar, queda de performance em atividades físicas.
  • Em casos avançados, alterações esfincterianas e claudicação neurogênica.

Como o médico classifica a gravidade

Dois parâmetros guiam a tomada de decisão.

  1. Classificação de Meyerding, que estratifica o percentual de translação.
  2. Análise de ângulos, como o de escorregamento e a inclinação sacral, que estimam a tendência de progressão.

    Exames que confirmam

    O caminho começa com história clínica e exame físico detalhados. Em seguida, os exames de imagem definem o grau e estabilidade.

    • Radiografias AP e perfil, com medidas de Meyerding e dos ângulos.
    • Radiografias dinâmicas em flexão e extensão, para avaliar a instabilidade.
    • Ressonância magnética, para observar o disco, facetas, canal e raízes.
    • Tomografia, útil em dúvidas anatômicas e planejamento cirúrgico.

    Quando acompanhar e quando intervir

    Nem toda espondilolistese displásica exige cirurgia. Em quadros de baixo grau, sem déficit neurológico e com dor controlável, o manejo conservador costuma ser a primeira escolha.

    • Indicações de acompanhamento: Grau I ou II, sem sintomas neurológicos, dor leve a moderada, função preservada.
    • Indicações de intensificar o tratamento: piora clínica, progressão radiográfica, limitação para atividades e sinais de compressão neural.

    Tratamento conservador passo a passo

    O foco é reduzir a dor, melhorar o controle motor e frear a progressão durante fases de crescimento.

    • Educação sobre postura, ergonomia e modulação de cargas.
    • Fisioterapia com fortalecimento de tronco e glúteos, treino de estabilidade lombo pélvica, alongamento de isquiotibiais.
    • Controle da dor com analgésicos e anti inflamatórios quando indicado.
    • Moderação de esportes que exigem hiperextensão repetida até o controle dos sintomas.
    • Colete em casos selecionados, por tempo definido, para fases agudas.

    Espondilolistese displásica em crianças e adolescentes

    Durante o estirão, a chance de escorregamento aumenta. Consultas seriadas e radiografias de controle permitem detectar progressão cedo.

    Dor persistente, queda de rendimento esportivo e marcha com flexão de quadris e joelhos pedem avaliação rápida.

    Quando a cirurgia entra em cena

    A indicação cirúrgica é considerada em dor refratária ao tratamento conservador, déficits neurológicos, claudicação neurogênica, progressão do deslizamento e nos altos graus.

    O objetivo é descomprimir estruturas nervosas e estabilizar a coluna.

    • Descompressão direcionada quando há compressão radicular ou de canal.
    • Artrodese in situ para estabilizar L5 S1, com bons resultados funcionais.
    • Redução do deslizamento em casos selecionados, visando restaurar o alinhamento, com maior complexidade.
    • Interbody por via adequada ao caso, para restaurar a altura discal e ampliar a área de fusão.

    Recuperação e retorno às atividades

    Após a cirurgia, o plano de reabilitação inclui proteção inicial, progresso gradual de mobilidade, fortalecimento e reeducação postural.

    Em tratamento conservador, a evolução costuma ser favorável com boa adesão ao programa e ajustes de carga.

    Erros comuns que atrasam a melhora

    Alguns hábitos mantêm a dor ativa e aumentam a sobrecarga em L5 S1, o que dificulta o controle da espondilolistese displásica, como:

    • Ignorar dor persistente em extensão lombar.
    • Retomar esportes de impacto cedo, sem critério.
    • Abandonar a fisioterapia ao aliviar os primeiros sintomas.
    • Postergar reavaliações durante o estirão do crescimento.

    Caso você tenha recebido o diagnóstico de espondilolistese displásica e ainda tem dúvidas sobre o tratamento mais adequado, agende uma consulta para uma avaliação mais detalhada.

    FAQs

    Espondilolistese displásica é a mesma coisa que ístmica?

    Não. A forma displásica é congênita, ligada a malformações facetárias. A ístmica envolve defeito da pars interarticularis e costuma ser adquirida por estresse repetitivo.

    Quais exames confirmam a espondilolistese displásica?

    Radiografias em AP e perfil, radiografias dinâmicas, ressonância magnética e tomografia quando necessário. Eles definem grau, estabilidade e impacto neural.

    Meu filho tem dor lombar ao crescer, devo investigar?

    Sim. Dor persistente, limitação para esportes, alteração de postura ou marcha pedem avaliação com especialista e, se indicado, exames de imagem.

    Fisioterapia resolve espondilolistese displásica?

    Em muitos casos de baixo grau, sim. A combinação de fortalecimento, controle motor e ajustes de carga reduz dor e estabiliza o segmento.

    Após cirurgia, quando volto ao esporte?

    O retorno é gradual e guiado por critérios clínicos e de imagem. Em geral ocorre em fases, com liberação progressiva conforme consolidação e recondicionamento.

    Dr. Aurélio Arantes

    Especialista em ortopedia de coluna em Goiânia. Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC). Preceptor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia do HC-UFG e membro da diretoria da SBOT Goiás.

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