Patologias da Coluna

Mielopatia cervical: como reconhecer e tratar

Conheça as causas, sintomas e tratamentos para mielopatia cervical.

A mielopatia cervical ocorre quando a medula espinhal é comprimida no pescoço, gerando perda de função neurológica, onde identificar cedo melhora as chances de estabilizar o quadro.

Com base em minha prática clínica, reuni neste guia reúne as causas, sinais, exames e formas de tratamento, inclusive cirurgia, para que você converse com o especialista com segurança.

O que é mielopatia cervical

Trata-se de uma disfunção da medula por compressão dentro do canal cervical, cujo processo é frequente após os 50 anos e pode avançar lentamente.

Em muitos pacientes, o quadro aparece junto de artrose da coluna e estenose do canal.

Causas mais comuns

A mielopatia cervical costuma resultar de alterações degenerativas, porém, outras condições também podem comprimir a medula. Veja os principais mecanismos envolvidos:

  • Degeneração discal com perda de altura e desidratação.
  • Osteófitos nas margens vertebrais (bicos de papagaio).
  • Hipertrofia do ligamento amarelo e do ligamento longitudinal posterior.
  • Estenose do canal cervical em múltiplos níveis.
  • Hérnias discais volumosas e calcificadas.
  • Traumas, tumores, infecções e deformidades.
  • Fatores agravantes: tabagismo, carga repetitiva sobre o pescoço e predisposição familiar.

Sintomas que exigem atenção

Os sinais podem surgir de forma sutil. A evolução típica começa com alterações sensitivas e de coordenação, progredindo para fraqueza e instabilidade da marcha.

  • Dificuldade para tarefas finas com as mãos, como abotoar uma camisa ou escrever.
  • Formigamento, choque ou dormência em braços e mãos.
  • Fraqueza nos membros superiores e inferiores.
  • Rigidez, reflexos exaltados e sensação de perna “presa”.
  • Perda de equilíbrio, passos curtos e quedas.
  • Dor cervical, com possível irradiação para membros.
  • Alterações urinárias, com retenção ou perda.

Quando suspeitar de mielopatia na cervical

Três pistas ajudam no reconhecimento:

  1. Perda de destreza manual.
  2. Instabilidade para caminhar.
  3. Mudança urinária.

Se esses sinais coexistem com dor no pescoço, a suspeita aumenta e o encaminhamento deve ser rápido.

Diagnóstico: como confirmar

A avaliação combina história clínica, exame neurológico e métodos de imagem. O objetivo é documentar a compressão e medir seu impacto funcional.

  • Ressonância magnética: mostra compressão, edema e sofrimento medular.
  • Tomografia: detalha ossificações, osteófitos e calcificações discais.
  • Radiografias: ajudam a avaliar alinhamento e curvatura cervical.
  • Exames neurofisiológicos: úteis em casos selecionados para diferenciar radiculopatia de comprometimento medular.

Mielopatia cervical tem cura?

É uma condição crônica e progressiva, contudo, intervenções adequadas podem estabilizar o quadro e recuperar parte das funções, especialmente quando indicadas sem demora.

O objetivo central é impedir avanço e reduzir sequelas.

Tratamento não cirúrgico

Em quadros leves ou em pacientes com alto risco cirúrgico, inicia-se com medidas conservadoras, sempre com vigilância próxima.

  • Educação postural e ajuste de atividades com sobrecarga cervical.
  • Fisioterapia focada em equilíbrio, coordenação e fortalecimento seguro.
  • Analgésicos e adjuvantes para dor neuropática, com cautela em idosos.
  • Colar cervical por tempo limitado, apenas em situações específicas.
  • Evitar manipulações cervicais de alta velocidade.

Quando a cirurgia é indicada

A indicação cirúrgica ganha força diante de déficit neurológico, piora clínica, estenose significativa em múltiplos níveis ou falha do tratamento conservador.

O alvo é descomprimir a medula e restabelecer espaço no canal, com estabilização quando necessário.

Técnicas cirúrgicas mais utilizadas

A via de acesso depende do padrão de compressão, do alinhamento cervical e do número de níveis comprometidos. A experiência do cirurgião também pesa na escolha.

  • Via anterior (pescoço): discectomia ou corporectomia com artrodese por cage e parafusos.
  • Via posterior: laminectomia com ou sem artrodese, ou laminoplastia para ampliar o canal.
  • Abordagens combinadas: indicadas em deformidades e compressões complexas.
  • Técnicas minimamente invasivas: dilatação muscular e menor agressão tecidual em casos selecionados.

Riscos e complicações

Complicações são incomuns, porém, possíveis, como infecção, hematoma, lesão nervosa, fístula de líquor e dificuldade transitória para engolir após via anterior.

A avaliação de risco individual ajuda a reduzir eventos e orientar expectativas realistas.

Pós-operatório e reabilitação

Após a cirurgia, caminhar cedo é benéfico, e em alguns casos, utiliza-se colar cervical de forma temporária.

A fisioterapia inicia no tempo indicado pelo cirurgião, com foco em marcha, equilíbrio e coordenação.

A fusão costuma consolidar por volta de 3 meses, com melhora clínica progressiva até 12 meses.

Prevenção de agravamentos

Para pacientes diagnosticados com mielopatia cervical, compartilho as seguintes orientações para evitar a piora do quadro:

  • Parar de fumar, com suporte profissional.
  • Controlar doenças metabólicas e manter peso saudável.
  • Ergonomia no trabalho, evitando posições mantidas por longos períodos.
  • Treino regular de equilíbrio e fortalecimento de tronco.
  • Revisões periódicas com especialista quando há estenose conhecida.

Se você ficou com alguma dúvida, agende uma consulta para avaliar detalhadamente seu caso e pensarmos na melhor abordagem terapêutica.

FAQs

Quais sinais sugerem mielopatia cervical?

Dificuldade para tarefas finas com as mãos, desequilíbrio ao caminhar, dormência em membros e alteração urinária. A presença combinada desses sinais pede avaliação rápida.

A mielopatia cervical sempre precisa de cirurgia?

Nem sempre. Em casos leves e estáveis pode-se iniciar com medidas conservadoras. Déficit neurológico progressivo e estenose importante costumam indicar cirurgia para proteger a medula.

Quanto tempo leva a recuperação após a cirurgia?

A melhora é gradual. Muitos pacientes relatam ganhos funcionais nas primeiras semanas. A consolidação óssea ocorre por volta de 3 meses, com estabilização dos resultados até 12 meses.

Mielopatia cervical pode voltar?

Recidivas são raras quando a descompressão é adequada. O acompanhamento periódico e o cuidado com hábitos reduzem o risco de novos sintomas.

Dr. Aurélio Arantes

Especialista em ortopedia de coluna em Goiânia. Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC). Preceptor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia do HC-UFG e membro da diretoria da SBOT Goiás.

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Dr. Aurélio Arantes