Patologias da Coluna

Síndrome de Bertolotti: causas, sintomas e tratamento

Guia completo para entender e tratar a síndrome de Bertolotti.

A síndrome de Bertolotti é uma causa subestimada de dor lombar em jovens e adultos.

Ocorre quando a última vértebra lombar apresenta uma transição anatômica com o sacro ou o osso ilíaco, criando uma articulação anômala ou uma fusão parcial.

Nem toda vértebra de transição provoca dor, porém, quando sintomática, pede diagnóstico preciso e um plano terapêutico estruturado.

O que é a síndrome de Bertolotti

Trata-se de uma variação congênita na região lombossacra, geralmente em L5. O processo transverso pode crescer e tocar o sacro ou o ilíaco, formando uma neoarticulação ou uma fusão.

Esse arranjo altera a distribuição de cargas na coluna, favorecendo sobrecarga facetária, sacroileíte reativa e desgaste acelerado nos níveis vizinhos.

Você pode encontrar o termo vértebra de transição lombossacra ou megapófise transversa.

Quem tem risco e quando suspeitar

Qualquer pessoa pode ter vértebra de transição desde o nascimento.

O quadro costuma chamar atenção entre 20 e 40 anos, faixa em que esforço repetitivo, treino intenso e trabalhos prolongados em pé ou sentado evidenciam a dor.

Veja os sinais de alerta:

  • Dor lombar unilateral persistente.
  • Piora com extensão e rotação.
  • Sensibilidade sobre a articulação sacroilíaca.
  • Resposta parcial a anti-inflamatórios.

Causas e mecanismos da dor

O sintoma não vem apenas da anomalia óssea. A dor na síndrome de Bertolotti costuma resultar da soma de fatores mecânicos e inflamatórios.

  • Neoarticulação dolorosa entre o processo transverso e o ilíaco, com sobrecarga local.
  • Artropatia facetária por mudança no eixo e na mobilidade segmentar.
  • Sacroileíte secundária a inclinação pélvica e compensações musculares.
  • Degeneração precoce do disco acima da transição, com possível protrusão.
  • Estreitamento foraminal e irritação de raiz nervosa em casos selecionados.

Sintomas mais comuns

A queixa principal é dor lombar localizada, de padrão mecânico. Pode haver irradiação para nádega ou quadril sem seguir o trajeto de um nervo.

Rigidez ao acordar e limitação para inclinar ou estender o tronco são frequentes.

Em parte dos casos, a dor alivia ao sentar ou deitar. Formigamento e fraqueza sugerem compressão neural e pedem investigação dirigida.

Diagnóstico: exames e critérios

O diagnóstico começa pela história clínica e pelo exame físico com palpação de pontos dolorosos, avaliação de mobilidade lombar e testes para articulação sacroilíaca.

  • A radiografia anteroposterior da coluna lombossacra costuma identificar a vértebra de transição.
  • A tomografia detalha a anatomia óssea quando necessário.
  • A ressonância magnética avalia o disco e sinais de inflamação nas articulações.
  • Bloqueios diagnósticos com anestésico local ajudam a confirmar a fonte de dor e a orientar o tratamento.

Tratamento passo a passo

O tratamento da síndrome de Bertolotti é escalonado, começando por medidas conservadoras e avançando apenas se houver falha clínica.

  • Educação e ajustes de rotina: higiene da coluna, pausas no trabalho, ergonomia.
  • Medicação em ciclos curtos, como anti-inflamatórios e analgésicos conforme prescrição.
  • Fisioterapia ativa com foco em estabilidade do core, mobilidade de quadril, fortalecimento glúteo e controle motor lombopélvico.
  • Infiltração guiada com anestésico e, quando indicado, corticosteroide na neoarticulação ou na sacroilíaca.
  • Ablação por radiofrequência em casos selecionados com resposta positiva a bloqueio diagnóstico.

Se a dor persistir e limitar a função, a cirurgia pode ser considerada.

As opções incluem ressecção do processo transverso sintomático ou fusão dirigida quando há instabilidade e degeneração significativa no nível adjacente.

A decisão é individual, baseada em anatomia, resposta a infiltrações e metas do paciente.

Reabilitação e retorno às atividades

O plano envolve progressão de exercícios sem dor, treino de resistência e reeducação postural. Corrida, saltos e cargas axiais elevadas devem ser reintroduzidos com critério.

Esportes de rotação repetida pedem trabalho específico de quadril e tronco. O objetivo é devolver autonomia e reduzir recaídas.

Prognóstico e prevenção de recaídas

Muitos pacientes com síndrome de Bertolotti melhoram com tratamento conservador bem conduzido. Controle de peso, sono adequado e treinamento de força sustentam o resultado.

Recorrências tendem a ser mais brandas quando o paciente mantém uma rotina de exercícios e ergonomia.

Caso você tenha recebido o diagnóstico de síndrome de Bertolotti e ainda tem dúvidas sobre como tratar, agende uma consulta para uma avaliação mais detalhada do seu caso.

FAQs

A Síndrome de Bertolotti é comum?

A vértebra de transição é relativamente frequente na população, porém nem todos sentem dor. O termo Síndrome de Bertolotti se aplica quando a alteração está relacionada a sintomas persistentes.

Qual o CID da Síndrome de Bertolotti?

Em geral, utiliza-se a categoria Q76 para malformações congênitas da coluna, com subcategorias definidas pelo laudo e pelo sistema de registro adotado no serviço.

A Síndrome de Bertolotti leva à invalidez?

Não há invalidez automática. O benefício depende de avaliação pericial, documentação da dor refratária e impacto funcional no trabalho. A maioria melhora com abordagem escalonada.

Quando considerar cirurgia na Síndrome de Bertolotti?

Cirurgia entra em cena quando falham as medidas conservadoras, há confirmação de origem da dor por bloqueios e existe correlação anatômica clara. A escolha entre ressecção e fusão é individualizada.

Quais exercícios ajudam no controle da dor?

Fortalecimento do core, estabilização lombopélvica, mobilidade de quadril e treino glúteo são pilares. Caminhada e bicicleta ergométrica costumam ser bem toleradas. A progressão deve ser guiada por profissional.

A Síndrome de Bertolotti é hereditária?

Existe componente congênito. O padrão familiar não é bem definido e a presença da alteração não significa dor obrigatória. O acompanhamento é orientado pelos sintomas.

Dr. Aurélio Arantes

Especialista em ortopedia de coluna em Goiânia. Membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC). Preceptor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia do HC-UFG e membro da diretoria da SBOT Goiás.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo
Dr. Aurélio Arantes